quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O primeiro dia do resto de nossas vidas

Num dia que já começou estressante, meu telefone toca no ônibus. Não reconheço o número e hesito em atender. Acabo atendendo.

Do outro lado, aquela voz que eu já conhecia e que não ouvia tinha tempo. O inesquecível tem reconhecimento imediato. "Poxa, tem tanto tempo que não nos falamos...". Exatamente, porque eu simplesmente queria esquecer.  Além do que, eu sabia que nos encontraríamos no fim do dia, não era? Sua saudade não aguentaria até lá, pelo jeito...

O ligação divertida foi interrompida pelo péssimo sinal da operadora. Você ainda tentou me ligar mais uma vez, mas tudo que recebi foi um SMS da operadora avisando que seu número tinha me ligado. Paciência então.

No intervalo da minha aula, ele chega  - atrasado, como sempre. Mas parou prá cumprimentar a todos e parar perto de mim, sem deixar de comentar sobre uma foto minha que eu tinha postado na rede social. "Aquilo era anilina mesmo?". Fiz que sim com a cabeça, mas mostrei minha nova cabeleira cor de fogo. "Mas assim tá bonitinho, né?". Passou a mão pelo meu cabelo de forma letárgica, sem responder nada. Se despediu pra ir à aula.

Eu estava estranhamente em paz. Simplesmente decidi não soltar fogos por cada pequeno afago. Se eu tiver que celebrar algo, que seja algo concreto. Assim, ao terminar a aula, fui esperar o ônibus, enquanto eu sabia que ele estaria há apenas alguns metros de distância. Não fui até lá.

Dentro do ônibus, ele parou prá conversar com uma de minhas irmãs que estava sentada ao meu lado. Me olhou, abriu um sorriso largo e aparentemente sem porquê, me ofereceu sua lata de refrigerante. Ele prosseguiu conversando com minha irmã, e eu distante. Na verdade, eu também estava muito cansada com a semana que eu estava tendo, nem era charme não... Mas fiquei feliz quando ouvi de uma conquista que ele estava esperando há um tempo. Agradeci aos céus por isso, ainda em silêncio, ainda fingindo distância.

Até que ele sentou no banco de trás do meu. Começaram as cutucadas. Quando vi, já estávamos travando uma batalha infantil prá saber que daria mais tapas no outro. Acho que ganhei, porque enquanto ele segurava firmemente meu braço direito, o esquerdo deu um tapa certeiro na parte interna do braço que me segurava. Ele me soltou e fez uma careta, rindo ao mesmo tempo. Satisfeita com minha vitória, me concentrei a descer no ponto que já estava próximo.

Saímos do ônibus, ele veio me abraçar pra se despedir. E abraçou forte. Soltei um gemido, e ele abraçou mais forte ainda. E mais forte. E quanto mais eu dizia "aaaaiiiiii", mais forte o abraço ficava. Pensei que ia morrer - e dessa vez não foi de emoção, foi de asfixia mesmo. Tentei me soltar e acho que ele também entendeu que estava no limite. Abraçou minha irmã e lá foi ele, sem dizer uma palavra, enquanto eu ia prá direção oposta. Notei meus braços marcados dos tapas dados por ele e sorri.

Eu, decididamente, não sou normal.

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