quarta-feira, 29 de maio de 2013

Idas e vindas

E você não mudou. Parou de me ligar - menos mal, mesmo que esteja doendo. Mas quando nos encontramos, vivemos na órbita um do outro, atraídos por uma força tal qual a gravidade. Eu ainda tento me esquivar quando percebo, meu "alerta" dispara quando você invade meu espaço pessoal. Você ainda me procura, contando que eu ainda estivesse ali perto. Pra disfarçar a gafe, me pede um pouco de água. Um "ufa" angustiado ainda escapa do meu peito.

E mais uma vez dizemos mil coisas no espaço de um abraço. Sinto seus dedos entre os meus cabelos, meu corpo entregou todas as impressões de segurança. Por um descuido, recostei a cabeça em seu peito. Bastou passar um ônibus mais perto prá que nós lembrássemos dos outros. Numa atitude quase automática, nos despedimos dos que faltavam. Comprei uns chocolates no ponto do meu ônibus, ainda com aquela sensação de segurança. Era sentir o tudo, e depois o nada. Presença parece que fica. Nos acomodamos que nem massinha, moldados pelos braços do outro, na esperança de que aquela sensação perdure se não nos mexermos muito. Eu sei que no seu caminho você tenta o mesmo, como se sem aquela sensação, a presença se esvaísse. E então, quando a ausência se torna quase táctil de tão condensada, vem o vazio. Parece um poço escuro e frio, no qual caímos. E no fundo desse poço, nos damos conta do quanto a simples presença vicia, completa e nos inquieta. O vazia que fica na separação. É chegar em casa ainda com o vislumbre de sua imagem em meus olhos, como se estivesse ali, me dando boas vindas, me esperando prá jantar e depois acender um baseado, um puxar o outro prá ir pro quarto, e terminar o dia, enfim, na nossa cama... E depois se dar conta de que será apenas o velho café, um cafuné no gato e dormir abraçada ao edredon.

Essa noite sonhei que punha a cabeça no seu colo e dizia o quanto eu sentia sua falta. Você pareceu adivinhar. Me ligou.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Prá quê?


"Você me dá equilíbrio... Você me equilibra! Você me completa! Eu sempre quis viver um relacionamento como esse..."

Prá que tantas palavras bonitas, se isso tudo, por mais lindo que seja prá mim e prá você, não é suficiente?

"E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos,
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu."

Prá mim, chega.

sábado, 4 de maio de 2013

Talvez

Os olhos se cruzam. Brilhos desencontrados. Há algo de estranho no ar que ela não consegue identificar... Falta vivacidade! Cadê? Onde foi morar? Foi prá dentro do mar? Ela foi lá prá tentar buscar e botar de volta naquele sorriso insosso que ele esforçava. Uma onda desavisada e, quando percebeu, estava encharcada. Os dois riram e rolaram pela areia. "Você tá bem?", ele pergunta atencioso. "Claro! Agora estou...", ela sorri. Ele mencionou responder algo, mas nada saiu - apenas um suspiro entrecortado pelos pulos do coração dentro do peito. Mergulhada nos olhos dele, ela pôde enxergar a nuvem negra retornando. Ele desviou o olhar e procurou algo nos bolsos. Se afastou e ela decidiu que dessa vez não iria se preocupar. Mas era difícil não reparar as gargalhadas alteradas conforme a fumaça subia fazendo desenhos no céu avermelhado de outono. Ela só queria levá-lo pra casa, enrolá-lo em seu edredom e entoar cantigas. Ele só sonhava acordado com aqueles lençóis. Talvez um dia ele tivesse coragem. Talvez ela não se chatearia com a surpresa. Talvez seria bom fazer companhia à ela. Talvez fosse bom dividir aquela cama que parecia tão gigante... E no talvez, afogaram suas noites.