sexta-feira, 1 de março de 2013

A virada

Depois de tanta tristeza, não dormi direito: acordei às 6 da manhã frustrada. Fiquei então na cama, esperando entrar em horário comercial para dar início às minhas tarefas. Mesmo já sem esperança nenhuma, acabei adormecendo. E sonhei coisas muito estranhas.

Estava escuro na faculdade. Não sabia bem porquê. Lembro de termos tomado um suco muito azedo e amargo. Depois dançávamos, e no meio da dança, não nos controlamos: pulei em seu colo e nos beijamos ardentemente, como quem quer se fundir. Achei inapropriado e pedi que me soltasse. Sentei, zonza, na calçada, mas nossos amigos nos chamavam prá ir embora. Você me levava pela mão e pedia, quase implorava, prá que eu ficasse com você. Eu explicava que na atual conjuntura não era possível, não daria certo, e você insistia, olhando pro chão, daquele jeito de quem-quer-mas-tem-vergonha. Nos beijamos mais uma vez, então acordei.

Eu ainda estava meio zonza. Tudo o que eu não precisava era de um sonho como aquele, depois de ter decidido te tirar da minha vida. Não era assim que tinha de ser?

Entrei na rede, você estava lá. Depois de muito relutar, te chamei para perguntar uma coisa simples, sobre nossos compromissos. Você estava animado e não queria se deixar abalar com meu mau humor. Na verdade, estava preocupado. Não queria que eu me sentisse culpada. Falei que a culpa era minha, que eu não podia te cobrar nada. Você entendia como eu me sentia, mesmo não querendo que eu me sentisse daquele jeito. E foi aí que o inesperado aconteceu.

- Não querer nada com você é algo muito forte de se dizer...

- Tá bom. Vou refazer minha afirmativa: não quer nada além de amizade, o que na prática dá no mesmo. - eu retruquei.

- Er... Não.

Silêncio. Por que, afinal, estávamos discutindo aquilo? No entanto, foi incontrolável a surpresa de te ver assumindo o que não assumia nem sob tortura. A sensação era de que meu sonho não havia terminado quando acordei. A sensação era de que eu nem tinha acordado ainda. Li e reli o diálogo, ainda sem acreditar. E sem conseguir pensar em nada que eu pudesse dizer para prossegui-lo. Aquilo ali, naquele momento, já bastava.

No dia seguinte já estávamos de volta a tudo que eu pretendia evitar: recebendo suas ligações, compartilhando confissões, histórias de vida, concepções, experiências desagradáveis. Inicialmente, foi pouco mais de uma hora de verdadeira terapia. Talvez eu não precisasse voltar à psicóloga. Talvez nem você precise de uma também...

- Eu sou assim, eu me autossaboto. Quando estou cheia de problemas, para fugir deles, eu arrumo novos problemas com pessoas que eu amo...

- É, eu reparei. Só que eu não caio nessa não.

Talvez você seja tudo que eu preciso. Talvez eu seja tudo o que você precisa.