terça-feira, 25 de dezembro de 2012

E o mundo não acabou...

Ao teu encontro, teu olho brilha, teu sorriso abre, seu rosto ilumina. Impossível não notar. Passamos o dia juntos, nos abraçamos, tentei te ajudar, "para de me remendar""só não larguei tudo por causa de você", e eu achando que estava enlouquecendo. "Amore mio", bobagens mil, a cruz de malta enrubescendo, "mas isso não tem nada a ver com nós dois...""não entendi sua preocupação", guarda teu trabalho, teu olho castanho. Saímos e do meu lado uma moeda parece saltar ao chão. "Vai ver um anjo passou e jogou essa moeda prá você". Sim, eu sei, pensei o mesmo. Num dia que não precisava ter fim, não dissemos adeus. E no dia seguinte, tudo se repete: te encontro, teu rosto ilumina, e eu tento me controlar para não transparecer o mesmo enquanto sua mão busca meu quadril.

Dessa vez os anjos deixaram as moedas de lado: encontrei uma nota de 10 reais no chão. Você sorri, sonolento, pega na minha mão e a abriga na sua. Os dedos se abrem e se entrelaçam, se acomodando. Era como estar protegida debaixo das suas asas, como ser pequenina e usar sua mão de cobertor. Deitei a cabeça no seu ombro com medo de me mover um milímetro a mais e acabar acordando daquele sonho. Mas era real, você ali, com tanto medo quanto eu de se mover um milímetro. Era um momento tão perfeito no tempo e no espaço que qualquer excedente poderia estragá-lo. Não temíamos o fim do mundo, mas o fim daquele momento.

A gente desce, se abraça, deseja boas festas um ao outro você me lança mais uma vez aquele seu olhar pedinte - enquanto peço forças aos céus. Como resistir àquele brilho no olhar? Àquela covinha que você revela marotamente num sorriso - sorriso esse que me devora?

Adeus, preciso ir-me! Pare de me hipnotizar com seus gracejos! Já me deste as respostas que eu precisava. E assim levo comigo, entre outras coisas, o toque da sua mão na minha, a sensação dos dedos atrelados aos seus. E assim vou prá casa celebrando a vida, porque perguntei e fui ouvida.

Até o ano que vem!




quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

"If you walk out on me, I'm walking after you..."

Todas as romanticidades expostas em minha carne crua. Me expus prá você, e tudo que você soube dizer era que não podia retribuir. Até achava bonito - mas, oras, achar bonito muitos acham! Larguei a mão de ser besta e me pus em meu lugar: não era o que você queria? Parecia ser...

Mal nos encontramos nessa semana. Ontem nos vimos, mas eu mal lhe encarava. Por que você ainda dizia tanto o meu nome? Questões que rodavam em minha cabeça, que já andava cheia de preocupações. Procurei não pensar, só me afastar.

Na sala escura, você chegou sua cadeira perto da minha. Eu só queria entender porquê. Tudo que lhe dei não foi suficiente? Eu só queria me livrar da dor, esquecê-la um pouquinho, e tudo que tive foi uma bad trip. Nunca mais. Fui embora sem dizer-lhe adeus, você também não sabia o que me dizer.

Tive medo de te encontrar hoje. Tenho medo de voltar a dividir momentos com você. Tenho medo. Tenho medo. Tenho medo.

E quanto mais o medo me consome, mais eu fujo. Daí você arranja outros meios de invadir minha vida - esse tão falado invento de Graham Bell.

Me livra desse tormento?

sábado, 1 de dezembro de 2012

Deixe o amanhã dizer

Dormir e acordar ouvindo você. Parece um sonho, o começo de tudo. É bom saber que você confia em mim nos momentos mais angustiantes, mesmo que os fatos doam mais em mim. Mas é bom me sentir seu porto seguro, sua tábua de salvação. A sensação deve ser compreensível apenas aos anjos da guarda. E eu quero ser seu anjo, anjo de força, anjo esperança, seu anjo nu. Se a recompensa for o seu boa noite abafado todas as noites, eu aceito. Mas me deixe dividir tudo com você de perto, me deixe abençoar seu sono, me deixe tornar os obstáculos menores ao seu lado! Juntos seremos alados, não haverá força que nos conterá!
A natureza aguarda e junto dela estarei prá ouvir o seu "sim".

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

De mente aberta

A verdade é que nada sem você importa. Só hoje soube. Como se a tua presença fosse tão vital que na tua ausência o mundo se tornasse irreal. Como se o real mesmo fosse você. Como se nada daquilo tudo existisse se você não está.

Creio amar-te tanto que um simples beijo nos cabelos se torna um déja vù. Amar-te em segredo é como fiar todos os fins dos meus dias em uma linha só.

Real é quando te sonho, quando eu sinto sua boca me explorando espaços inimagináveis - talvez não na sua imaginação. É daí que vem a realidade das coisas, de tudo o que vem de você. Há um espaço doloridamente branco e preto, à espera do outro, ao lado de cada um.

Respiraria tu se soubesses que eu já não respiro?

Você fez algo por mim e eu não sei bem o que é. Não, não é nessa existência, é do outro lado da rua que não ousamos atravessar por covardia. O véu que atravessa a verdade de tudo o que fomos. Por que, meu amor, sinto uma flor desabrochar no árido deserto do meu peito quando você me chama de "meu amor"? De todos os apelidos, o mais bonito é esse: é com ele que vou querer que você me chame o resto da vida.

Que chances temos nós um sem o outro, misturando nossos próprios karmas? Tenho em você uma certeza que não me abandona o coração - e nem sei como lidar com ela. Porque ainda temo sofrer como já sofri.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Até quando?...

Eu e essa mania de querer fazer tudo certo... No que dá? Pessoas me elevando a um pedestal, me dando muito mais valor do que eu considero, se achando não-merecedores de mim. Por que só eu não enxergo isso tudo?

A diferença é que das outras vezes eu realmente tive dúvidas. Mas dessa vez, caro amigo, a certeza mora no meu coração, Espíritos vêm me contar. E eu não vou aceitar isso de você.

O que te faz duvidar do meu amor? Já se decepcionou tanto assim na vida? Deixe-me contar um segredo: eu também. Daí aparece você, correspondendo a todas as minhas expectativas. Você acha que eu não morri de medo? Você acha que eu ainda não morro?... A diferença é que dessa vez meu coração tá tão certo que não pretende desistir. E suas atitudes só confirmam o que todo mundo já sabe e você não admite de jeito nenhum: seja quando seu olhar fixou no meu durante uma crise na mesa do bar... Ou quando você me dedicou uma simples flor de hibisco.

Você é mesmo tudo isso? Tudo e muito mais! Por isso tenho a certeza do nosso merecimento mútuo. Porque se eu sou tudo isso mesmo que todos dizem - e que você me diz - eu não mereço nada menos do que VOCÊ.

O Universo é muito justo, não deixaria um desequilíbrio tão grande acontecer. Vamos parar de nos desmerecermos?

Continuo te amando do jeitinho que te amei da primeira vez que te vi. Ainda que eu resista em demonstrar como antes. Simplesmente porque ainda morro de medo.

Sua vez de abrir o jogo.

Da sua "mulher inteligentinha".

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Acalanto

Me espreguicei feliz por ter aberto os olhos e ter dado de cara com seu rosto sereno a dormir. Levantei, lavei o meu rosto, e quando soube que o almoço estava pronto, decidi ir te avisar.

Foi com certa dó que me aproximei de você que ressonava, toquei seu braço e você olhou prá mim. Avisei com voz suave sobre o almoço e você agradeceu docemente. Quando você fechou os olhos resolvi me afastar vagarosamente, e logo me surpreendi com você se remexendo na cama, bradando os piores palavrões possíveis. Ainda pensei que poderia estar irritado por eu tê-lo acordado, mas continuei observando e pude perceber que você parecia estar sonhando com situações do seu cotidiano. Foi aí que meu coração ficou apertadinho...

Eu sei que o problema não era eu, mas aquilo confirmava as vezes em que você afirmou que andava com a cabeça cheia de problemas. O que, na verdade, me apertou o coração foi não poder fazer nada. Até me ofereci pra ajudar - "só não me peça dinheiro porque isso não tenho", confessei entre risadas. Você se lembra? Mas você optou pelo silêncio, por remoer sozinho por dentro. E foge das minhas mãos a oportunidade de fazer algo por você, tornar sua jornada mais fácil, plantar sorrisos no seus rosto todos os dias com nossas brincadeiras infantis. Falar bobagens, servir de sua musa inspiradora no meio de palestras chatas. Te dar a mão e não deixar nada mais nos separar. Velar teu sono e não deixar nada nem ninguém te perturbar.

Será que tudo isso não poderia ser diferente? É preciso mesmo tanta dor de mim e de você?

"Dorme que eu vou te velar pela noite quieta,
Como a chama do luar vela o sono dos poetas..."

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Nos seus olhos

A cidade lavada por um temporal. Cerveja? Amendoim? Biscoito? Não, não posso. Hoje não. Talvez por isso eu estivesse mais forte.

Conversas, coincidências. Você confessa que me observa. Confessa o inconfessável. Agora entendo, porque sou atriz. Abraços, lábios próximos que não ousam se tocar. Linguagem corporal. Eram essas as respostas que eu precisava? Meu olhar busca algo ao longe, seu olhar vai em busca do meu. E seus olhos brilham tanto que é difícil fugir. Mas fujo, covarde, mais uma vez.

O que é que esse teu olhar me pede? A quê me convida esse teu sorriso? Último abraço, intenso. Boca na jugular, como quem tenta me roubar a vida. Beijo seu rosto demoradamente, e você paralisa como quem espera por mais –esse mais que não lhe dou.

Seu jeito menino se vê, então, sem outra alternativa: te põe frente a mim e profere a pergunta que faz saltar meu coração. Baixo a cabeça ao lado da tua e quase imploro para que repita. Seu silêncio pensativo revela o conflito interno. É, pois é: é assim que a gente fica. Pelo menos só por hoje, só por esta noite.

Agora é minha a pergunta que ecoa: quem sabe um dia isso tudo muda?

Quem sabe? Quem vai saber?...

sábado, 15 de setembro de 2012

A velha infância

Já eram trinta dias sem se ver. Mas, mais que isso, o momento era especial porque ela já tinha colocado seus sentimentos na mesa. Ele continuava uma incógnita.

Ela chegou mais cedo e aproveitou prá checar seus emails no celular. Quando a porta do teatro se abriu, todos olharam ao mesmo tempo. Inclusive Evita. Ele também a olhou rapidamente antes do primeiro passo adentro, e ambos desviaram o olhar. Era necessário ainda um tempo pro coração se acalmar. Ela ainda se levantou prá tentar abraçá-lo amigavelmente, Juan recebeu o gesto meio sem jeito. Talvez ainda não estivesse pronto. Ou talvez - temeu ela - tudo iria mudar entre eles. Para pior.

Ela emprestara um caderninho e sua caneta a alguém, e ela se espantou quando percebeu que seus pertences estavam nas mãos dele antes de se retirarem. "Vem! Suas coisas estão aqui!", balançou-as no alto para que ela visse. Buscavam agora o resto do grupo pelo prédio. Já desciam as escadas quando ele tentou erguê-la no alto. Apesar dos protestos, ele conseguiu sentá-la no seu braço e carregá-la escada abaixo. Ele a pôs no chão e ela ainda protestava. Ele ria dela. E ela riu com ele porque, afinal, nada tinha mudado entre eles. Alívio.

Finalmente reencontraram os outros e enquanto todos falavam, ele rabiscava e desenhava no caderninho. Olhava por um ângulo, por outro, parecia insatisfeito e arrancava a folha. Ao fechar o caderninho, ele deixou cair um pequeno papel, que ela pensou que era dela. Ela se distraiu com isso e ao se certificar que não era dela, ele logo devolveu o caderninho já fechado, pedindo desculpas. Ela nem entendeu o porquê, mas aceitou-as. Ele então a desafiou a acompanhá-lo numa região da cidade bem barra pesada. Ele não sabia que ela cresceu no pé do morro, desviou de esgotos a céu aberto durante a infância. Mas ela não quis estragar o seu momento professoral. Aceitou o desafio.

Deram uma volta na área. Para ele, era um choque de realidade nela. Para ela, era apenas mais do mesmo que sempre a deprimia. Pararam num beco escurecido pra conversar, e logo passou por eles um homem de meia-idade, bem vestido, com sua pasta executiva. Enquanto ambos conversavam, o homem parou mais à frente e, em cima de um balcão, espalhou um pó branco. Ela desviou o olhar, mas não por ter se chocado. Ela estava extremamente espantada com o fato de já ter sonhado com aquele cenário antes. E lembrava mais: no sonho que tivera anos antes, havia um fusca laranja, o que não cabia ali naquela realidade.

Ele a despertou de sua epifania prá irem embora. No ponto de ônibus, enquanto tagarelavam e riam, ele repentinamente puxou-a para si num gesto ágil e a abraçou. Silêncio. O mundo sumira em volta e ambos estavam em paz. Ligeiramente entorpecida, ela ainda tentou erguer os lábios prá ele, mas ambos se deram conta que seria inoportuno. Num gesto de compreensão ele fazia carinho em seus cabelos, enquanto ainda envoltos no abraço. O ônibus dela enfim chegou. Ele a conduziu, como um gentleman, ao ônibus e enquanto ela se ocupava em catar os degraus do veículo ele sussurrava algo que ela não conseguiu compreender.

Ela subiu. Pagou sua passagem e ao sentar-se, teve um estalo: buscou o caderninho e numa das folhas pôde finalmente ver o grande coração que ele desenhou com mão firme, preenchido em seus detalhes. Logo abaixo do desenho uma seta para a frase do Betinho: "O que somos é um presente que a vida nos dá. O que seremos é um presente que daremos à vida". Ela sorriu, pressionou o caderninho contra o peito. Se sentia aquela menininha que fora um dia, que tecia romances na imaginação. Ela se deu conta que, enfim, nunca tinha deixado de ser aquela menininha.

No dia seguinte, ela é acordada por aquela que fora seu ombro amigo ouvindo a saga do dia anterior. A amiga estava eufórica, porque, depois dela ter publicado suas reflexões sobre a própria infância, ele revelou uma foto sua de quando era menino. Apenas coincidência? Ou será que ele se sentia como ela?...

Ela estava confusa, não sabia o que pensar. Mas seu coração palpitava alegre. Trocas de declarações, bilhetes, desenhos, como duas crianças do primário. O frescor e a pureza do amor infantil, ainda que maduro... Alguém os entenderia? Ninguém mais entende o que é puro nos dias de hoje...

Admirando a foto que a amiga mostrou, percebeu que para além do sorriso dele, do olhar alegre, havia um carro na foto: lá estava o fusca laranja.
"Entre borrachas e apontadores
Mora o meu grande amor
Colei seu nome com várias cores
No livro que ela me emprestou..."



 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Tudo que eu queria te dizer

É seu aniversário. Você tinha me pedido um presente, e eu pensei em diversas coisas que eu pudesse comprar que podiam ser (ou parecer) especiais. Não encontrei. Só me restou entregar o que eu tenho de mais precioso: o meu coração.

Meu coração está entregue a você, eu estive entregue. Talvez eu esteja desde o primeiro dia, em que vi toda minha infância passar dentro de seus olhos. Ou desde a primeira vez em que nos abraçamos quando, prá minha própria surpresa, minhas pernas perderam as forças e eu não entendia o porquê. Talvez tudo tenha começado num beijo - mas não sei exatamente em qual, pois em todos eu perdi a razão e o raciocínio. Indo por eliminação, talvez eu tenha me entregado num dos beijos tão intensos a ponto de me fazerem sentir lágrimas na garganta. Mas daí eu teria que escolher um para o ponto de partida, e eu, sinceramente, sou incapaz de fazê-lo...

Quando começou, pouco importa. O que importa é que você conseguiu de mim algo que eu sempre resisti a entregar: meu coração. E não só o coração, mas também todo o pacote que o acompanha: corpo, mente, espírito... E não porque os anulei, mas porque eles se encontraram em você.

Explicação, não tem. Eu amo tudo o que vejo e sinto em você, e quanto mais eu o conheço, menos me decepciono. Mas é fácil se apaixonar por alguém tão fascinante - basta estar distraída. E você me pegou assim, num momento em que tudo o que eu queria era justamente não me apaixonar...

Eu te amo. Simplesmente queria te dizer isso. Mais por mim mesma que por você. Talvez você esqueça tudo o que eu quis dizer logo depois de ter lido, não me importo: talvez eu também esqueça. Talvez o presente não seja seu, e sim para mim mesma. Mas era o que eu queria te dar: uma tentativa de explicar as contradições que me movem por dentro. Ou a taquicardia que ainda me ataca quando te vejo.

Ainda que meus lábios nunca mais encontrem os seus, eu te amo. Ainda que meu corpo nunca sinta recônditos do seu (o que parece já conhecer de cor), eu te amo. Ainda que esse amor tenha que ficar guardado em algum lugar do Universo, congelado e sem esperanças, eu te amo. Hoje posso dizer que aprendi a amar porque te conheci. E isso basta. Obrigada por ter feito parte da minha vida, por ter enxergado em mim o que eu nunca tinha reparado e por ter me feito gostar mais ainda de mim do jeitinho que eu realmente sou.

Que o Universo te abençoe com tudo o que mereces e desejas, até mesmo pelo mérito que tens de ser o homem que és.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Por que eu te amo?

Me explica que coisa é essa... Essa taquicardia, esse gaguejar adolescente provocados pelo impacto da tua presença. Você entra com o corpo pendendo prá frente, como se já agradecesse a aplausos prévios. Espírito de artista - por isso eu consigo te ler e você consegue me ler. Depois se aproxima e me dá um abraço terno, suave. Mi casa, su casa, nos encontramos em um porto seguro. Éramos só nós dois envoltos de uma nuvem de paz, afogando em afeto a saudade contida. Depois de longo tempo, nos separamos em slow motion - os rostos próximos, era como um ímã: bastaria apenas um movimento e nossos lábios, ávidos, se misturariam como tantas vezes já fizeram. Prá descontrair, você brinca, se prepara prá me dar um "abraço de urso", dança e me faz rir. Me envolve de novo em seus braços, me ergue, a euforia toma conta de mim. "Você é levinha...", você parece se surpreender. Eu gargalho como criança na montanha-russa, querendo que aquele momento fosse eterno. Meus pés aos pouco voltam ao chão. Tudo o mais parece igualmente mágico, pois você parece amar aos meus. E eu o amo ainda mais.

Em casa, meu telefone toca. Imaginei meus pais me dando bronca porque fiquei de ligar e não liguei. Mas, prá minha surpresa, era você, mais uma vez. Atarefado, pegando ônibus, só prá perguntar frivolidades. Quem te aguarda não precisa dessa tua atenção? Me questiono, curiosa, mas nem ligo mais. Continue cantando meu nome, pensando em mim quando menos perceber: eu te aceito assim.

Porque eu te amo, e você amar aos meus já me seria suficiente. Porque eu te amo e ainda conto com o amor dos meus por você. Porque eu te amo e enquanto as canções te trouxerem até mim, estarei em paz. E enquanto teu abraço existir, me perderei no tempo e no espaço. E te amarei enquanto as almas se confundirem ainda que os corpos se percam em distância.

Porque eu te amo assim? Não sei explicar, nem sei dizer onde isso tudo começou - foi à primeira vista? Não sei. Só sei que minha cabeça só pensa em dizer "eu te amo" quando penso em você. Teus nomes invadiram meu coração e o coração emburreceu o cérebro, que não sabe dizer mais nada a não ser "eu te amo". "Meu riso é tão feliz contigo" e minha boca sorri sozinha ao lembrar dos nossos gracejos, enquanto os olhos represam a intensidade dos meus sentimentos. Meus órgãos todos enlouqueceram, e eu só queria enlouquecer ao teu lado...

Eu te amo. E basta assim.
(Pelo menos por hoje.)

terça-feira, 24 de julho de 2012

Sintoma de saudade

- Oi! Já tá de volta?

Alegria e surpresa se vinculavam na sua voz com o meu retorno, me contagiando.

- Sim, já estou de volta! Olha, eu tenho uma coisa prá te dizer...

Vozes se misturavam ao fundo da ligação. Do teu lado e do meu. Dentre risadas, quis ainda saber antes de tentar dar o recado:

- Tá tudo bem contigo?

Sem hesitar, você responde:

- Sim, tudo muito bem. Só estou com muita saudade de você.
- ...
- ...
- Olha, mas eu preciso te dizer... - ainda tentei.
- Desculpe, tenho que desligar agora. Depois você me liga?

Claro. Por que não?
Só não tive mais coragem de ligar...

sábado, 30 de junho de 2012

O acaso não existe

As pessoas já se despediam, quando Evita foi fazer o mesmo, abraçando-o. Juan não queria soltá-la, na verdade queria que ela o seguisse. Havia uma casa abandonada escondida por ali, um grupo iria até lá. A aventura a seduzia, mas antes quis se certificar:

- Você QUER que eu vá?

Ele evitou os olhos dela. Disse "não sei" de forma reticente. Ela pensou que se não era prá ela ir, ele não a teria chamado. Por que não? Que mal haveria?

Ela ficou impressionada como parecia que já conhecia o lugar. Já o teria visitado num de seus sonhos adolescentes. Era possível? Sabia que coincidências não existiam e confiava que estava onde realmente deveria estar.

No meio da escuridão, quase tropeçou. Ele lhe deu a mão e seguraram forte, num misto de satisfação e medo.

A cada passo, o reconhecimento ficava ainda mais forte e era difícil conter a excitação diante das constatações. No topo da escada, simplesmente parou. Ficou ali, embasbacada porque "já havia estado ali", ele dois degraus abaixo, ainda segurando a sua mão. Talvez ele tivesse medo que ela flutuasse, tamanha a fascinação que ela estampava em seu rosto. Ele não podia entender como um casebre abandonado no meio do mato poderia causar tal reação, talvez porque já conhecesse bem aquele lugar.

À luz de velas, o grupo sentou no chão do cômodo principal e começou a conversar sobre temas diversos. Ela só olhava em volta, reconhecendo cada centímetro das paredes, das janelas, e até da posição em que cada um sentava em volta. Se bem se recordava, era naquele momento em que ela já tinha se visto levitando, voando alto, até passar por sobre as telhas da casa. Ele - que ela não conhecia à época que sonhou - voava junto com ela. Mas daí em diante ela não lembrava mais, talvez tivesse acordado nesse momento (e é difícil lembrar de sonhos que se teve muitos anos antes).

Ela estava agora confusa. Precisava de um pouco de ar fresco então foi até a porta. Ele não demorou a abordá-la no mesmo lugar.

- Você já tinha vindo aqui?

Ela não conseguia pronunciar nenhuma palavra. Acenou que não com a cabeça, então ele a convidou a conhecer o resto do espaço.

Não havia muito o que olhar. Tinha mato e estava escuro. Ela se concentrava no som dos próprios pés pisando nas folhas secas quando notou que ele parou. Olhou prá trás e ele se espreguiçava. Se muito bem o conhecia, era um sinal de quem quer dizer algo mas não sabe como. Porém, não disse nada. Era mais um daqueles silêncios entre eles que diziam muito.
 
E assim Evita foi prá casa. E assim Juan foi prá casa. Cheios de tanto silêncio.

terça-feira, 19 de junho de 2012

O Encontro

"É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias, me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos, ilumina o corredor por onde passo todos os dias. É agora que quero dividir maçãs, achar o fim do arco-íris, pisar sobre estrelas e acordar serena."

(Caio Fernando Abreu)
Eventos atrasados. Estresse. Insatisfação geral. Mesmo concentrado ao caos, era nela que seus pensamentos voavam. De alguma forma ele sabia onde ela estava. De alguma forma telepática, esperava estar chamando por ela. E os chamados surtiram efeito.

Quando Evita adentra, tudo parece em camera lenta. Ela olha em cada rosto buscando o dele. Depois finge indiferença e se concentra em buscar um lugar prá sentar. Mal sabe ela que ali, em meio a milhares de pessoas, ele a identificou. Juan a segue com o olhar. Fica à espreita aguardando o momento certo de se aproximar. E o faz.

Ela acha graça do número, acha graça da mudança de visual. Ele não quer parar e sentar ao lado dela logo de cara, fica no entorno - conversa com um, conversa com outro, mas não sai da proximidade. Ela nota e, de alguma forma estranha, se sente acolhida. Gosta dele por perto.

Ele, de longe, não tira os olhos dela. Repara como ela interage com outros, como ri largamente, e de certa forma sente inveja dos seus amigos, por estarem tocando-a como ele mesmo gostaria. "Afinal, o que me falta?". Esperou então os amigos se afastarem, e lá foi se juntar a ela, talvez para interagir da mesma forma, talvez só para conversar. A essa altura, já não importava, só queria estar perto.

Ela notou seu vulto chegando por trás, nem precisou olhar: pela taquicardia que a atacou subitamente, ela já sabia quem era. Ele carregava consigo uma aura, uma energia que ela detectava quase inconscientemente. Os amigos que sabiam do fato davam nomes, chamavam de "magnetismo", mas ela não estava preocupada em nomear. Bastava entender que aquilo funcionava de forma muito eficaz. E assim ele se sentou ao seu lado, conversaram randomicidades, ele fingia que não tinha assistido às cenas por ela vividas pouco antes e perguntava tudo que havia acontecido. Ele estava com ciúmes ou simplesmente queria ampliar os assuntos? Nem ele sabia... Mas trocavam, assim, olhares, sorrisos, confidências. Até o momento em que citou "a pessoa que mora comigo".

Evita, que não gostava de rodeios, foi direta:
- Você quer dizer, "sua mulher"?

Juan baixou os olhos e puxou a boca prá direita. Não queria concordar, mas essa era a verdade. Ela o observava, com olhar altivo - uma muralha construída para que ela mesma não desmoronasse. Até que ela finalmente baixou os olhos também, e o acompanhou na tarefa de fazer dobraduras com os informativos que receberam. Quase ao mesmo tempo, uma amiga a chama prá ir lá fora, um amigo o chama num canto prá conversar. Ele não tem o que fazer a não ser a seguir com o olhar.

Elisa fala, fala, mas ela não tira os olhos da antiga arquitetura do lugar. Evita pensa que será melhor não voltar. Mas seu coração bate forte pedindo por um abraço. Por um momento, esquece o "tal magnetismo", e resolve seguir a razão só de vez em quando.

Ele ouve o amigo, mas morde os lábios nervosamente pensando se a verá novamente. Queria simplesmente sair correndo e abraçá-la, mas raciocinava e raciocinava - talvez melhor não.

Até que seu coração dá um clique.

Até que o coração dela dá um clique.

Ela para enquanto a amiga continua andando. Num movimento lento, dá meia volta, inicia a caminhada com passos inseguros, que logo ficam impacientes. Ela caminha sem rumo, o coração é o guia.

Ele pede licença, caminha para a saída, desvia de muitos, sai do salão e olha em volta. Não sabe bem prá onde está indo. Coça a cabeça e seu coração toma o rumo. Atravessa uma grande e antiga porta de madeira e, como se soubesse o que está fazendo, acelera o passo.

No corredor, em meio a vários transeuntes, seus olhares se encontram de longe. Ficam aflitos tentando um caminho mais rápido, as pessoas não colaboram. Finalmente se encontram: peito contra peito, coração contra coração. Um abraço forte de quem não quer deixar seu lar. Pessoas continuam andando à volta, eles não reparam. Simplesmente ficaram invisíveis na multidão. Se teletransportaram para um universo paralelo, não existem mais nessa galáxia.

E ficam ali, por alguns minutos enlaçados, balançando como quem dança uma valsa inaudível. Os olhos fechados, corações serenos, sorrisos irrepreensíveis. Aos poucos, se soltam, sem se afastarem. Olham um no rosto do outro como quem quer memorizar, adentram nos olhares reciprocamente. Ambos sabem que é hora de ir, voltar pro planeta Terra.

Finalmente, cada um retorna lentamente para onde estava. Sem trocar nenhuma palavra. Não era necessário, porque em silêncio era que trocavam as maiores verdades.

Corações não são hipócritas.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

"Ainda somos os mesmos..."

"Não quero lhe falar, meu grande amor,
Das coisas que aprendi nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor é uma coisa boa..."

Tanta gente... Tanta energia... Tanta vontade de mudar... Que uma hora explode. E em meio a sprays de pimenta e tensão, nossos olhares se encontram. Já havia dias que não nos víamos e estávamos completamente descaracterizados, mas o reconhecimento foi imediato - será que você também me procurava? Meu coração dá pulos, meu estômago parece num elevador. Um abraço rápido só pra matar a saudade, porque o momento não é oportuno. Nos separamos novamente. Você volta prá saber se eu comi, pede prá segui-lo. Some de novo. E assim, vez ou outra, nos aproximamos e afastamos, rimos, cantamos, nos olhamos de longe. Palavras de ordem, atenção ao palanque. Mas chega a hora de se despedir e eu nunca sei direito como fazê-lo...

Tarde da noite, nos encontramos, frescos e renovados depois de uma chuveirada. Você me sorri, eu te sorrio, nos abraçamos. Você brinca de cheirar meu pescoço, eu não aguento de cócegas. Você se preocupa: "é por causa da barba?". Você sabe que não, você sabe o que me arrepia de verdade... E talvez por isso mesmo, faz de novo. Me chama prá detrás da lanchonete, dividimos confissões. Há algo seu comigo - será que eu perdi? Voltamos prá frente da lanchonete, conversamos com amigos. Você se afasta. Fica ali, parado, quase em frente a mim. Tento me distrair com o que os outros falam, mas só consigo contemplar seu vulto pela visão periférica. Talvez você tenha ficado ali, me olhando de longe, por uns 5 minutos. E eu pensando se eu me aproximava prá me despedir, ou se eu teria outra chance.

Nossos olhares se encontraram novamente. Eu não sabia o que fazer e baixei os olhos. Quando voltei o olhar, vi você virando devagar, andando pro seu ônibus, como quem espera que eu corra para abraçá-lo. Assim como eu espero, quando entro no ônibus, que você venha atrás prá falar comigo. E como você, eu não fiz nada. Fiquei lá, parada, te olhando se afastar, sem saber o que fazer, tentando falar por telepatia "volta!...". Esse foi nosso último momento: um contato visual cheio de medo, uma despedida sem palavras. Não tivemos outra chance.

Sabe lá quando teremos novamente?
(A propósito, seu negócio ficou comigo...)

"O que tem de ser tem muita força." (Guimarães Rosa)

terça-feira, 29 de maio de 2012

Seu olhar

É, eu gosto de te olhar. Mas não me faz tanta graça olhá-lo estático nas fotos, por mais espontâneo q seja o seu sorriso. Gosto de te olhar em movimento, os lábios que se movem enquanto sua voz derrete minhas muralhas, o jeito que você gesticula, o jeito que estuda as palavras antes de dizê-las. E não precisa estar falando comigo, nem olhando nos meus olhos: pode ser com qualquer um, que eu fico ali bem ao lado, parada, meio abobalhada, me concentrando nos cachos dos meus cabelos prá tentar disfarçar o fascínio quase declarado. É, é difícil não olhar... Principalmente quando eu sinto você, lá do outro lado de não sei de onde, olhando prá mim. É quase telepático: sinto um calafrio e meus olhos vão direto prá onde você está, mesmo que eu não saiba direito. E você desvia o olhar, com jeito de menino arrependido que quebrou a vidraça da vizinha... E quando vejo, você já está perto de mim, se aproximando com a timidez de um adolescente prá dizer coisas. Que coisas? Ah, coisas, coisas... Pode ser qualquer coisa, mas a gente sempre tem que conversar. Pode ser de sapos, de pombos... Pode ser da situação caótica da educação brasileira atualmente... Pode ser da conta atrasada. Coisas, ué! Há uma necessidade constante de compartilhar, e quando a Vida nos impossibilita de fazê-lo pelo diálogo, a Vida nos dá a ferramenta do olhar. É simples assim: você olha prá mim, eu olho prá você e pronto - já dissemos tanta coisa, tanta coisa... Coisas essas que as palavras muitas vezes não conseguem expressar. Então a gente olha. Eu olho prá você. Você olha prá mim. E é por isso que tenho sentido tanto a sua falta nesses dias...

terça-feira, 22 de maio de 2012

Pra ser sincera

Olha, dessa vez eu entendi. Principalmente à posição ridícula a que me expus. "É a vida", você disse. É, é a vida... Ainda mais sendo a minha, tão cheia de histórias tristes. Eu sabia que ia me machucar – desde a primeira vez que te vi eu sabia que ia me machucar, e tentei de toda forma não me envolver. E quando eu pensei que já estava curada de você, tudo aconteceu.

Não vou botar culpa do episódio dessa noite na bebida porque sou bem grandinha e tenho que assumir minhas responsabilidades. Meu transtorno?? Tanto menos. Quero dizer que meu amor por você não foi um sintoma nem diagnóstico de nada. Eu não estava disposta à situação, estava disposta à pessoa: estava disposta a você. Mas eu entendi, entendi que o caminho está ocupado.

Não, eu não to bem... Eu senti mta frustração na hora, lágrimas na garganta, mas bastou uma hora de viagem de ônibus prá já conseguir rir disso tudo... Isso me é estranho. Talvez você não seja mesmo tudo aquilo que me faltava... E eu tanto menos estou aqui prá ser uma pedra no seu caminho.

Consigo rir de mim, consigo rir de você... Que situação, hein? Realmente, eu não desejaria estar no seu lugar... Ou você já deve ter vivido isso tantas vezes que nem faz mais diferença... Agora, tanto faz. Nem sei como vou acordar amanhã de manhã, e sinceramente, nem quero saber. Vou seguir os teus conselhos e seguir em paz. A amizade continua – pelo menos da minha parte. Eu vou superar. Ou não – não sei ao certo, me deixe quieta aqui prá eu digerir meus pensamentos...

Enquanto isso, conte-me vc!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

"Entre borrachas e apontadores..."

Até quando você vai fugir? Vai fingir que não me olha, que não espera meu abraço, que não espera a hora de mexer no meu cabelo? Até quando vai arrumar desculpas prá me ligar sem ter que dizer o óbvio? Até quando vai disfarçar a alegria de falar comigo? Todos já notaram, será que só você não vê?

O desejo contido querendo sair, a mágica entre nós mesmo nos momentos descontraídos... A situação está quase insuportável tanto prá você quanto prá mim?

Pois hoje, antes que caíssemos no erro mais uma vez, lembrei do dia em que você implorou para que eu não o tentasse. Bom, se é assim que tem que ser, eu fiz o meu melhor. Eu não sei se você entendeu, mas você é inteligente e maduro... Até porque, com tantos afazeres na agenda, você não vai abrir espaço só prá criar esse conflito, não é mesmo?

Preciso de mais afazeres na minha agenda também... Assim penso menos nisso.

Bem, ainda não é pecado se preocupar com um amigo, ou rir puerilmente com ele... Sigamos então brincando na nossa "velha infância", e tudo seguirá como num "trem da alegria". Simbolismos bregas, eu sei. Mas só nós entendemos...

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Velha Infância

Lembro pouco desse dia. Tivemos um breve luau com amigos na praia. Aos poucos se dissiparam, nós ficamos dividindo uma cerveja na porta da universidade. Você se sentou, pediu prá eu sentar ao seu lado. Falava, me abraçava embriagado. E eu só lembrando do dia em que você pediu prá não deixar minha boca tão perto da sua - então por que a sua estava tão perto da minha?
 
Você então lembra de uma música que ouviu e que te fez lembrar de mim...

"Você é assim, um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você desde o amanhecer
Até quando eu me deito...
Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo é o meu amor...
E a gente canta, e a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança - A gente brinca
Na nossa velha infância...
Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só...
Você é assim, um sonho pra mim
Quero te encher de beijos
Eu penso em você desde o amanhecer
Até quando eu me deito...
Eu gosto de você e gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo é o meu amor..."

E ignorando todos à nossa volta, fizemos um dueto, como quem canta prá lua avermelhada que brotava no horizonte. Não podia dar certo: falhamos miseravelmente na missão de deixar tudo como estava.

Estávamos sós, no ponto de ônibus. Eu me escorava em você, talvez pelo sono, talvez pelo álcool ingerido. Ficamos perto o suficiente para sentirmos a respiração um do outro, o que se tornou irresistível. Você me senta na mureta do ponto, segura meus cabelos, me observa me dissolvendo em suas mãos... Depois conversamos, nos abraçamos e brincamos como um casal de namorados felizes. Como se o resto do mundo tivesse deixado de existir.

Foi bom... Muito bom... Mas o que há de ser depois?

quinta-feira, 26 de abril de 2012

"Mas te quero livre também..."

Naquele dia tinha violão na hora do intervalo. Até que enfim alguém sabia tocar alguma coisa da Marisa Monte... A pedidos, cantei "A Sua". Cantei sentido - parecia que eu já sabia a conversa que teríamos no dia seguinte...

Não resisti quando você sentou bem atrás de mim ao fim do debate e começou a sussurrar randomicidades. Discretamente, levei a mão ao seu joelho carinhosamente, nem ligando muito prás poucas pessoas que conseguiriam ver daquele ângulo. Eu sentia necessidade de te tocar, e sempre q eu podia fazê-lo, eu fazia. E você também parecia gostar, parava perto, às vezes bem à minha frente.

Ao fim, fomos de braços dados até o ônibus da faculdade. Chegando perto você parou pra me dar mais um abraço daqueles que eu adoro e disse que precisávamos conversar seriamente. Gelei. Será que eu tinha exagerado? Devia eu ter mais compostura? Agora havia também um jogo político, explicitei minha preocupação e você disse que não era isso, que ninguém tinha a ver com a nossa vida.

Pois bem: se não era isso, o que havia de tão grave na sua voz?

O discurso se iniciou com lisonjas e senti desconforto em você. Você dizia que eu era uma mulher de verdade em meio à tantas meninas que você via por aí, o que o tentava muito. Era para eu ficar feliz ao ouvir coisas assim, mas a tensão era grande. Caminhamos até o jardim e ao chegarmos lá, sem que você olhasse nos meus olhos, a verdade saltou da sua boca: havia uma outra pessoa, bem longe. Mas que poderia voltar a qualquer momento. E estaríamos magoando-a. Quase perdi o chão primeiramente porque eu realmente não fazia ideia - e me esquivo de toda forma de caras comprometidos. Segundo foi por pena. Pena que aquela coisa tão gostosa que estávamos vivendo fosse em vão. Aparentemente nos identificávamos ideal e fisicamente, havia muita química mas também muito afeto. Havia total possibilidade de que nos apaixonássemos; você também sabia e tinha medo como eu. Concordamos então que aquilo não deveria continuar. "Amigos, certo?". Certo. Que jeito, né?

Terminado o assunto, você decidiu me levar de volta ao ônibus, mas eu não conseguiria seguir sem ao menos pedir um último beijo. Eu precisava sentir tua boca e teu corpo pela última vez, precisava daquilo prá sonhar... E você sorriu largamente, num misto de satisfação e medo. "Último mesmo? Tem certeza? Depois você não vai ficar querendo outro, e mais outro, e mais outro...?"

- Vou querer sim, mas vou resistir...

Você me pegou pela cintura, nossos rostos dançavam frente a frente sem se tocar. Eu delirava sentindo a sua respiração antes que nossas bocas finalmente se tocassem, e então foi como se um raio tivesse caído sobre nós. Esquecemos o resto do mundo, ficamos loucos, quase perdi os sentidos ao mesmo tempo em que eu sentia de tudo! Foi o beijo mais intenso de toda a minha vida. E o abraço que se seguiu - ah, o abraço...

"Eu só quero que você caiba
No meu colo porque eu te adoro cada vez mais..."

Porque despedidas são assim, tristes e intensas? Enfim, já era hora do ônibus sair, precisávamos voltar. Você ainda me chamou pra ir com você num bar, mas fui clara quando eu disse não. Eu precisava me afastar um pouco, você precisava entender até mesmo em nome dos nossos projetos políticos. Era assim ou a amizade também iria pelo ralo. Acho que você compreendeu...

"Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que eu não vou ficar muito atrás..."

No ônibus, meu estômago revirava e eu achava que dava prá ler na minha testa. Essa mesma testa que você beijou enquanto se misturava aos outros. Eu não queria muito olhar prá ninguém. Nossos amigos em comum, ao nos verem entrar no ônibus juntos, sorriam demonstrando cumplicidade. Mal sabiam o que realmente tinha acontecido.

O bolo na garganta me seguiu até em casa, onde lembrei da música cantada nos corredores da faculdade no dia anterior:

"Eu só quero que você saiba que estou pensando em você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem..."

As lágrimas, finalmente, correram pelo rosto.

"E que eu te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem..."

sexta-feira, 20 de abril de 2012

"O amor é filme"

Foi um dia inteiro de gestos recolhidos, olhares cúmplices, troca de afinidades. Todos já tinham notado e faziam piadinhas juvenis - eu ruborizava, mas não me esquivava. O problema é que eu tinha medo, muito medo de estar errada mais uma vez.

"Todos já sabemos o q vai acontecer aqui, só não sabemos ainda onde...". Já não era mais segredo pros amigos e as "jogos da verdade" já tinham sido muito explícitos. Embalados pelo vinho e a brisa do mar, confissões vinham à tona. Coração na boca, coração bobo, coração balão.

Já eram altas horas quando do grupo que se encaminhava para o ponto de ônibus, Juan se desgarrou - sim, eu estava de olho. Até que ele olhou prá trás e me chamou. Queria se despedir porque ia dormir ali. Ainda ouvi outras vozes me chamando, mas como hipnotizada, atravessei até a calçada onde ele estava sem olhar prá trás.

"O amor é filme..."

Passos firmes no asfalto livre. Será que eu conseguiria dizer o que ensaiei tanto na minha cabeça?

"Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama..."

As sandálias cheias de areia quase não tocavam o chão. Mas os pés seguiam decididos.

"Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica..."

Flashes dos momentos compartilhados durante aquele dia me deixavam taquicárdica.

"Da felicidade, da dúvida, dor de barriga
É drama, aventura, mentira, comédia romântica."

Ao chegar do outro lado, fui recebida de braços abertos. Um abraço longo, terno e quente como o outro que havíamos tido e um silêncio quase constrangedor. Respirei fundo.

- Você não vai deixar o fim do meu dia mais feliz?... - finalmente consegui dizer num sussurro. Mas ele não entendeu. Nos desenlaçamos e nossos rostos estavam bem próximos, olhos nos lábios um do outro quando ele disse "O quê?...".

Me explicar prá quê? Tontos de desejo e vinho, deixamos q o corpo falasse. Linguagem corporal: tudo que eu tinha tentado observar nos últimos 7 dias. Tudo que eu tinha sonhado desde o primeiro dia estava ali acontecendo. O resto do mundo sumiu.

Difícil foi seguir em frente deixando prá trás o gosto, o cheiro, o toque... Mas tinha gente me esperando. De volta ao grupo, a pergunta foi inevitável: "E aí? Curtindo muito a militância na faculdade?".

Ri alto. Eu já não precisava negar minha alegria...

E sobem os créditos!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

A Roda da Fortuna

Nunca mais encontrei Juan. Apenas um esbarrão pelos corredores, sorrisos trocados, mais nada. Enquanto isso eu me distraia com Quijano, com quem eu muito conversava. Não sabia bem se ele pretendia me conquistar politicamente ou afetivamente. Mas fui me deixando levar.

Não, não era amor. Era um fascínio idealizado, dentro daquelas circunstâncias que me eram instigantes. Eu sabia disso, mas acabei me envolvendo demais. Meus dias agora eram gastos nas formas de fugir, mas a verdade parecia me perseguir - como se tudo já não fosse torturante demais.

Soube do evento que ocorreria na faculdade, e achei q seria interessante dar uma circulada - quem sabe, conhecer gente nova? Não demorou muito para que eu e minha amiga déssemos de cara com o casal recém-formado do qual eu fugia. Minha amiga estava interessada em uma outra pessoa presente e sugeriu dar uma volta. Concordei prontamente.

Foi fácil encontrá-lo. Juan é figura carimbada nos eventos - pelo menos nos poucos no qual estive presente. Estranhamente, quando nos aproximamos e ele veio em minha direção para os costumazes beijinhos no rosto, meu coração deu um pulo. Uma das mãos segurou firmemente meu rosto, o olhar semicerrado quase se aproximando da minha boca. O abraço terno que ocorreu logo em seguida me deixou ainda mais confusa. Eu nem tinha bebido ainda, mas será que ele já? Certamente, nesse caso, minha amiga Elisa teria sentido alguma alteração também. Não, ela não notara nada.

Sabe quando você conhece alguém que acha muita areia pro próprio caminhão? Pois é, foi assim no primeiro dia de aula. Um cara super interessante, carismático, mas além de tudo, era meu momento de estudar e não pensar nessas coisas... Quem diria! Enfim: nas poucas vezes q nos encontramos, formei uma barreira. Bloqueei mesmo. E acabou que apareceu uma outra pessoa q me distrairia... E da qual eu passei a fugir.

Quando eu voltava depois da minha saga prá conseguir um banheiro, essa Elisa me alertou que ele tinha se espantado com minha ausência, parando em meio de seus compromissos para perguntar se eu já tinha ido embora. Não acreditei a princípio, ou não quis acreditar. Ele lembrava do meu nome???... Lembra a estória da barreira? Pois é... Momentos depois ele reapareceu vestindo uma camiseta limpa. Dizia que agora podia abraçar, e assim se aproximou de mim, me envolvendo firme e calorosamente. Senti o corpo amolecer em seus braços, apoiei meu queixo no seu ombro, e ele começou a se movimentar levemente ao som da música, eu seguindo seu balançar. Depois de segundos que pareceram anos, de forma igualmente lenta, ele foi me soltando e eu pensei que, por simpatia ia abraçar minha amiga também. Se desculpou mas tinha que resolver algo. Olhei para Elisa, e ela estava com olhos esbugalhados me olhando com um sorriso cínico no rosto. Ruborizei estranhando a reação daquele abraço em mim.

O resto da noite seguiu sem ele, mas foi mto agradável, conhecendo novas pessoas, me aproximando mais de amigos já presentes na minha vida, lembrando do abraço quente que me deixou tonta... Depois de algumas cervejas, verdades saem, gargalhadas tbm.

Fui me despedir de um amigo, e aproveitei que Juan estava perto. Dessa vez foi difícil, prá mim, desgrudar. Desejei muito que as cervejas na mente não me fizessem entregar o ouro - ou qualquer coisa, a desculpa eram as cervejas. Como o evento estava acabando, resolvemos aguardar o resto do pessoal prá comer algo por aí. Nisso, papo vai, papo vem, olhares aqui e ali, um novo abraço aparentemente sem motivo. Olhei prá minha amiga como que para confirmar: será que eu estava me enganando de novo??? O mesmo sorriso cínico que recebi me dizia que não, eu não estava louca. Pelo menos, não dessa vez. Taquicárdica como uma adolescente, me despedi mais uma vez, pq infelizmente ele não nos acompanharia no lanche. Será que eu ia me machucar de novo com esses meus achismos? Eu tava distraída da minha própria verdade! Tudo porque eu achava areia demais... Ai, ai, até onde essa minha baixa autoestima ia me levar? Parece que gosto de sofrer e escolhi a estória errada de propósito - Quijano não era prá mim! Por isso gosto de escrever: as fichas finalmente caem.

Como sou boba... Comecei a noite melancólica, agora eu tremo em lembrar da agradável surpresa. A situação inusitada me fez repensar toda minha estória afetiva até aqui. Me dei conta q sempre busquei a estória mais difícil por ser mais instigante. Quanta gente interessante já posso ter deixado passar...

Bem, prá onde a estória vai, não sei. Eu nem sabia q ia dar nisso! Se vai, se fica por aqui - aprendi a não contar com nada, porque a roda da fortuna gira. Ora de forma mais lenta, ora de forma mais rápida, mas gira sempre. Mas a expectativa da segunda-feira nunca me foi tão interessante quanto agora...

segunda-feira, 5 de março de 2012

"Eu estava em paz quando você chegou..."

Era o início de uma nova era, tudo era novidade. Caminhos, corredores, meus passos apressados e eu arfando com medo de chegar atrasada. Cheguei sim, um pouco, mas os trabalhos ainda estavam no início.

Todos estavam sentados num círculo, logo procurei encontrar um lugar prá mim também. Pude reconhecer alguns rostos que eu já tinha conhecido online, a grande maioria me reconheceu também. Fui me sentindo em casa, os assuntos fluíam. A ansiedade agora era saber quando iriam iniciar as pinturas.

Claro, afinal, trote que se preze tem que ter pinturas, não é???

Entre risos e assuntos diversos, do outro lado do círculo vi surgir uma figura que me chamou a atenção. O tempo parou, minha infância passou em filme projetado em seu rosto. Não sabia o que, exatamente, me hipnotizava: se era a cor forte da camiseta, a voz forte, o sorriso - tudo nele me parecia perfeito. Eu não tinha ido com esse intuito, então foi grande minha surpresa quando me peguei pensando "caramba, que cara interessante!". Com a desculpa de registrar o evento, saquei o celular e tirei uma foto na direção dele, antes que ele atravessasse o círculo de cadeiras buscando um lugar melhor. Mas logo tratei logo de tirar isso da cabeça.

Durante o bate-papo, me senti como se estivesse sendo observada. Eu, já estando interessada, pensei em moldar meu comportamento para também atrair atenção, mas depois pensei: "Que nada! Não vim aqui prá isso e eu sou do jeito que sou! Ponto!". Fiz de tudo para tirar aquela atração imediata do meu foco, mas quando iniciaram-se as pinturas, ele começou a pintar o rosto da menina que sentava ao meu lado. Pontinha de ciúmes. Queria ter sido eu. Até porque a pintura estava superelaborada, fiquei embasbacada com o talento do pintor. Ele inclinado sobre a menina se concentrando na pintura, e eu, sentindo uma energia muito intensa vindo dele prá mim. Ali eu vi que eu queria muito, muito a sua atenção. Mas um outro veterano tirou-me dos meus pensamentos e veio pintar meu rosto também. Não com a mesma maestria mas... O negócio era nos divertirmos!

Na saída, o grupo com o qual eu me dirigia pro ônibus da faculdade conversava animadamente. Eu voltava a mergulhar nos meus pensamentos. Decidi que tinha que tirar aquilo tudo da cabeça, que minha intenção era me dedicar aos estudos, não mais a essas coisas de coração... Até porque, das pouquíssimas palavras que trocamos eu não devia imaginar nada! Algo me dizia que eu ia quebrar a cara - talvez a experiência?? Talvez a assustadora forma com que a atração me tomou? Não importava, eu já tinha me decidido.

Já no portão, conversando animadamente com meus novos amigos, somos interrompidos pela figura com sua camiseta berrante. Era um veterano querendo genuinamente auxiliar aos novos alunos. Demos todos umas boas risadas, ele me cumprimenta como quem cumprimenta um parceiro de futebol - e eu fico desconcertada. Conversa vai, conversa vem, ele se aproxima de mim, toca meu ombro:

- Poxa, eu tô aqui preso aos meus calouros, mas eu tenho que ir...

E se despede. Sigo-o com o olhar enquanto ele se vai, lutando por dentro contra a vontade de que ele ficasse. Eu queria saber seu nome, e retomando minha atenção aos colegas que estavam em volta, pude registrar: Juan. Eu o buscaria depois na rede social, talvez descobrisse mais sobre ele... Mesmo que meu lado racional me gritasse "esqueça!".

Que seja!
Um brinde aos começos!!