Foi um dia inteiro de gestos recolhidos, olhares cúmplices, troca de afinidades.
Todos já tinham notado e faziam piadinhas juvenis - eu ruborizava, mas não me
esquivava. O problema é que eu tinha medo, muito medo de estar errada mais uma
vez.
"Todos já sabemos o q vai acontecer aqui, só não sabemos ainda
onde...". Já não era mais segredo pros amigos e as "jogos da verdade" já
tinham sido muito explícitos. Embalados pelo vinho e a brisa do mar, confissões
vinham à tona. Coração na boca, coração bobo, coração balão.
Já
eram altas horas quando do grupo que se encaminhava para o ponto de ônibus, Juan
se desgarrou - sim, eu estava de olho. Até que ele olhou prá trás e me chamou.
Queria se despedir porque ia dormir ali. Ainda ouvi outras vozes me chamando,
mas como hipnotizada, atravessei até a calçada onde ele estava sem olhar prá
trás.
"O amor é filme..."
Passos firmes no asfalto livre.
Será que eu conseguiria dizer o que ensaiei tanto na minha cabeça?
"Eu
sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama..."
As
sandálias cheias de areia quase não tocavam o chão. Mas os pés seguiam
decididos.
"Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã
fica..."
Flashes dos momentos compartilhados durante aquele dia me
deixavam taquicárdica.
"Da felicidade, da dúvida, dor de
barriga
É drama, aventura, mentira, comédia romântica."
Ao
chegar do outro lado, fui recebida de braços abertos. Um abraço longo, terno e
quente como o outro que havíamos tido e um silêncio quase constrangedor.
Respirei fundo.
- Você não vai deixar o fim do meu dia mais feliz?...
- finalmente consegui dizer num sussurro. Mas ele não entendeu. Nos
desenlaçamos e nossos rostos estavam bem próximos, olhos nos lábios um do outro
quando ele disse "O quê?...".
Me explicar prá quê? Tontos de
desejo e vinho, deixamos q o corpo falasse. Linguagem corporal: tudo que eu
tinha tentado observar nos últimos 7 dias. Tudo que eu tinha sonhado desde o
primeiro dia estava ali acontecendo. O resto do mundo sumiu.
Difícil foi
seguir em frente deixando prá trás o gosto, o cheiro, o toque... Mas tinha gente
me esperando. De volta ao grupo, a pergunta foi inevitável: "E aí? Curtindo
muito a militância na faculdade?".
Ri alto. Eu já não precisava negar
minha alegria...
E sobem os créditos!
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