Nunca mais encontrei Juan. Apenas um esbarrão pelos corredores, sorrisos trocados, mais nada. Enquanto isso eu me distraia com Quijano, com quem eu muito conversava. Não sabia bem se ele pretendia me conquistar politicamente ou afetivamente. Mas fui me deixando levar.
Não, não era amor. Era um fascínio idealizado, dentro daquelas circunstâncias que me
eram instigantes. Eu sabia disso, mas acabei me envolvendo demais. Meus dias
agora eram gastos nas formas de fugir, mas a verdade parecia me perseguir - como
se tudo já não fosse torturante demais.
Soube do evento que ocorreria na
faculdade, e achei q seria interessante dar uma circulada - quem sabe, conhecer
gente nova? Não demorou muito para que eu e minha amiga déssemos de cara com o
casal recém-formado do qual eu fugia. Minha amiga estava interessada em uma
outra pessoa presente e sugeriu dar uma volta. Concordei prontamente.
Foi
fácil encontrá-lo. Juan é figura carimbada nos eventos - pelo menos nos
poucos no qual estive presente. Estranhamente, quando nos aproximamos e ele veio
em minha direção para os costumazes beijinhos no rosto, meu coração deu um pulo.
Uma das mãos segurou firmemente meu rosto, o olhar semicerrado quase se
aproximando da minha boca. O abraço terno que ocorreu logo em seguida me deixou
ainda mais confusa. Eu nem tinha bebido ainda, mas será que ele já? Certamente,
nesse caso, minha amiga Elisa teria sentido alguma alteração também. Não, ela não
notara nada.
Sabe quando você conhece alguém que acha muita areia pro
próprio caminhão? Pois é, foi assim no primeiro dia de aula. Um cara super
interessante, carismático, mas além de tudo, era meu momento de estudar e não
pensar nessas coisas... Quem diria! Enfim: nas poucas vezes q nos encontramos,
formei uma barreira. Bloqueei mesmo. E acabou que apareceu uma outra pessoa q me
distrairia... E da qual eu passei a fugir.
Quando eu voltava depois da
minha saga prá conseguir um banheiro, essa Elisa me alertou que ele tinha
se espantado com minha ausência, parando em meio de seus compromissos para
perguntar se eu já tinha ido embora. Não acreditei a princípio, ou não quis
acreditar. Ele lembrava do meu nome???... Lembra a estória da barreira? Pois
é... Momentos depois ele reapareceu vestindo uma camiseta limpa. Dizia que agora podia
abraçar, e assim se aproximou de mim, me envolvendo firme e calorosamente. Senti
o corpo amolecer em seus braços, apoiei meu queixo no seu ombro, e ele começou a
se movimentar levemente ao som da música, eu seguindo seu balançar. Depois de
segundos que pareceram anos, de forma igualmente lenta, ele foi me soltando e eu
pensei que, por simpatia ia abraçar minha amiga também. Se desculpou mas tinha
que resolver algo. Olhei para Elisa, e ela estava com olhos esbugalhados
me olhando com um sorriso cínico no rosto. Ruborizei estranhando a reação
daquele abraço em mim.
O resto da noite seguiu sem ele, mas foi mto
agradável, conhecendo novas pessoas, me aproximando mais de amigos já presentes
na minha vida, lembrando do abraço quente que me deixou tonta... Depois de
algumas cervejas, verdades saem, gargalhadas tbm.
Fui me despedir de um
amigo, e aproveitei que Juan estava perto. Dessa vez foi difícil, prá mim,
desgrudar. Desejei muito que as cervejas na mente não me fizessem entregar o
ouro - ou qualquer coisa, a desculpa eram as cervejas. Como o evento estava
acabando, resolvemos aguardar o resto do pessoal prá comer algo por aí. Nisso,
papo vai, papo vem, olhares aqui e ali, um novo abraço aparentemente sem motivo.
Olhei prá minha amiga como que para confirmar: será que eu estava me enganando
de novo??? O mesmo sorriso cínico que recebi me dizia que não, eu não estava
louca. Pelo menos, não dessa vez. Taquicárdica como uma adolescente, me despedi
mais uma vez, pq infelizmente ele não nos acompanharia no lanche. Será que eu ia
me machucar de novo com esses meus achismos? Eu tava distraída da minha própria verdade! Tudo porque
eu achava areia demais... Ai, ai, até onde essa minha baixa autoestima ia me
levar? Parece que gosto de sofrer e escolhi a estória errada de propósito - Quijano não era prá mim! Por
isso gosto de escrever: as fichas finalmente caem.
Como sou boba...
Comecei a noite melancólica, agora eu tremo em lembrar da agradável surpresa. A
situação inusitada me fez repensar toda minha estória afetiva até aqui. Me dei
conta q sempre busquei a estória mais difícil por ser mais instigante. Quanta
gente interessante já posso ter deixado passar...
Bem, prá onde a estória
vai, não sei. Eu nem sabia q ia dar nisso! Se vai, se fica por aqui - aprendi a
não contar com nada, porque a roda da fortuna gira. Ora de forma mais lenta, ora
de forma mais rápida, mas gira sempre. Mas a expectativa da segunda-feira nunca me foi tão
interessante quanto agora...
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