domingo, 3 de fevereiro de 2013

Guerreiro menino

O telefone tocou mais uma vez, como eu previa. No entanto, não estava com muita vontade de atender. Levantei, cumpri algumas tarefas. Acabei ligando de volta.

A voz fraca e quase embargada rechaçou a brincadeira que sempre faço quando ele atende ao telefone. "Po, hoje estou triste demais e você fica me chamando de 'mala'...", choramingou. Perdi o chão. Afinal, o bom humor era uma constante, principalmente nas nossas ligações. No entanto, o compreendi. Perguntei o que estava havendo, mas ele se recusava a dizer. "Coisas minhas", dizia ele. E eu sem ter como ajudar, soltei um estúpido "não fica triste não...". Perdida, no ponto de ônibus, me despedi, quase sem lembrar ao certo o que eu estava fazendo ali.

Ele sempre foi muito mais aberto que eu em relação a seus problemas. Eu já sou mais fechada mesmo, é meu, mas ele até consegue tirar algumas coisas de mim. De qualquer forma, sempre senti orgulho e até alegria de saber o quanto ele confiava em mim, inclusive nos momentos mais difíceis. Me sentia quase seu anjo da guarda na Terra... Mas agora, com sua resistência em me contar o que trazia tanta tristeza prá sua voz, eu simplesmente compartilhava com ele uma dor sobre a qual eu não sabia nada. No fim do dia eu ainda tentei descobrir algo ligando mais uma vez, mas nem ele estava melhor, e nem queria dizer a razão.

Assim foi meu fim-de-semana: eu perdida, apenas deixando a vida passar, apenas tentando levar em frente as coisas que eu pelo menos sei. Enquanto uma dor, essa que nem ao menos conheço, implode meu peito, principalmente por eu não sabê-la - muito menos saber como ajudar a extirpá-la dele e de mim.

Voltando prá casa, liguei o rádio. E como sempre, esse oráculo não costuma falhar:


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